domingo, 26 de outubro de 2008

Haia Lispector

"Já entrei contigo em comunicação tão forte que deixei de existir sendo. Tu tornas-te um eu. É tão difícil falar e dizer coisas que nunca podem ser ditas. É tão silencioso.Como traduzir o silêncio do encontro real entre nós dois?Dificílimo contar: olhei pra vc por uns instantes, tais momentos são meu segredo.Houve o que se chama de comunhão perfeita...Eu chamo isso de estado agudo de felicidade."


Blog totalmente às moscas, perdoem. Cá estou dando uma breve atualização.

Amo o Vinicius, mas não estava mais aguentando vê-lo toda vez que entrava no blog! rsrsrs..


Pra dar um 'oi', nada melhor que palavras de Clarice.
Uma deixa: Haia, Vida em aramaico, era o verdadeiro nome de Clarice antes de chegar ao Brasil e Clarice interpretava seu sobrenome Lispector como Lis no peito, sendo assim, Haia Lispector significa 'Vida de lis no peito'. Lindo, não?
Com carinho, Rosália Souza.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Vinicíus de Moraes


• Soneto a Quatro Mãos

Tudo de amor que existe em mim foi dado.
Tudo que fala em mim de amor foi dito.
Do nada em mim o amor fez o infinito
Que por muito tornou-me escravizado.

Tão pródigo de amor fiquei coitado
Tão fácil para amar fiquei proscrito.
Cada voto que fiz ergueu-se em grito
Contra o meu próprio dar demasiado.

Tenho dado de amor mais que coubesse
Nesse meu pobre coração humano
Desse eterno amor meu antes não desse.

Pois se por tanto dar me fiz engano
Melhor fora que desse e recebesse
Para viver da vida o amor sem dano.

• Soneto De Separação

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo, distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Desculpem esse rápido post, mas estamos ocupados, estudando.
Está difícil mas tentaremos o mais breve possível trazer inovações ao blog.
Bem, Vinicíus de Moraes dispensa comentários, não é mesmo?
Participou da Segunda Geração do Modernismo Brasileiro, enquadrou-se na poesia.
Vinicíus usou muito em suas obras o soneto, estilo clássico, estilo este que o Modernismo rejeitava.
Mas o Modernismo era tão liberal que era permitido até utilizar modelos que eles eram contra.
Bem, vou ficando por aqui. Quem quiser, confira algumas letras e poemas do nosso grande Vinicíus Moraes
.

sábado, 9 de agosto de 2008

Não sou alegre nem sou triste: sou poeta.


• Canção

No desequilíbrio dos mares,
as proas giram sozinhas...
Numa das naves que afundaram
é que certamente tu vinhas.

Eu te esperei todos os séculos
sem desespero e sem desgosto,
e morri de infinitas mortes
guardando sempre o mesmo rosto.

Quando as ondas te carregaram
meus olhos, entre águas e areias,
cegaram como os das estátuas,
a tudo quanto existe alheias.

Minhas mãos pararam sobre o ar
e endureceram junto ao vento,
e perderam a cor que tinham
e a lembrança do movimento.


E o sorriso que eu te levava
desprendeu-se e caiu de mim:
e só talvez ele ainda viva
dentro destas águas sem fim.


O que falar sobre a nossa Dama da Literatura?

Apesar da grandiosidade de suas obras, elas são extremamente suaves, simples.
Cecília Meireles consegui apresentar em suas obras a musicalidade, a efemeridade das coisas, a melancolia, o indefinido, a solidão.
Uma mistura de idéias que consegue fazer quem a lê, refletir sobre a vida, sobre o tempo.

É considerada a melhor de nossas poetisas modernas, quer pelos recursos expressivos, em contante busca da perfeição quer pela emoção que nos comunica.
Cecília viveu sua infância em companhia da avó, no Rio de Janeiro. Dedicou-se por vários anos ao magistério, de cuja experiência profissional resultou Criançam, meu amor, belíssimo livro para o curso de primeiro grau. Ministrou aulas de literatura brasileira e disciplinas correlatadas nas universidades federais do antigo Distrito Federal e do Texas (EUA). Viajou por vários países. Portugal foi o primeiro a reconhecer-lhe o mérito, antes mesmo que o Brasil a consagrasse como poetisa de extraordinário valor.

Abaixo, alguns sites interessantes sobre a nossa poetisa ou que contém algum conteúdo sobre ela.



Danilo Sátiro.

domingo, 3 de agosto de 2008

Pedra e Bala - Cordel do Fogo Encantado



Juntem as forças pra seguir nessa jornada
Busquem as forças pra lutar na sua própria batalha
A poeira subiu de ambos lados
Arames farpados olhos e punhos fechados e cerrados
A faca marcada pela mesma vida seca como a terra rachada
Uma sombra densa e pesasda eclipsando o que há de melhor na sua alma
O verdadeiro terror mais sufocante que o calor
Essa é a sua jaula
Os desertos se encontram de várias formas
Seja no espírito no solo ou na mente através de idéias tortas
Que produzem gente morta em escala industrial
Guerra pela terra
A pedra contra o tanque
Guerra altera a terra nada será como antes
Na inverção dos papéis do pequeno Davi contra Golias o gigante
Como os barões das mega corporações
Gigante como o coronelado dos grandes e pequenos sertões
Como vários e vários e vários Ubiratans
Com seus sanguinários batalhões
Que na sua prepotência e ignorância bélica
Não conseguirão perceber a força e a chegada certeira daquela pedra
Juntem as forças pra seguir nessa jornada
Busquem as forças pra lutar na sua própria batalha
Um beijo seco no portão do teu ouvido
Quebrando cercas pra chegar na nossa mira
A pedra curte a bala corre e voa
A pedra fura bala transpassa
A bala é quente e a pedra é crua como um gole de cachaça
Velho como teu projeto louco
Forte como quem chora de medo
Guerra pela terra
A pedra contra o tanque
Guerra altera a terra nada será como antes
Escuto em alto-falantes aquele som de cimento dessa muralha sem fim
E desejo q pedra e a bala
A santa paz fora do jogo
Pois o que fala alto é a pedra e bala
Naquela praça onde as crianças brincam,
Naquele prédio perto das estrelas
Naquele circo no qual quando chove não há espetáculo

Música enorme, eu sei, mas merece sem dúvida ser lida com muita atenção e ser entendida. Pra falar a verdade todo o cd Transfiguração merece ser escutado, lido, sentido e entendido. Sempre escutei demais e fui me tocando no que ela queria dizer: Guerras, conflitos, a impotência dos desfavorecidos contra aqueles que detém o poder e a liderança. Lendo algumas coisas na internet e ouvindo opiniões de amigos fui descobrindo que fatos mais concretos estão presente na letra, como a guerra na palestina: Lirinha e BNegão disseram em uma entrevista na TV Cultura que a idéia da letra começou a nascer ao verem uma imagem, acredito que seja esta no iníco do post, em que palestinos jogavam pedras em tanques de guerra(Guerra pela terra, a pedra contra o tanque). Ouvi interprtações dizendo também que a música representa a guerra de canudos, abordada na obra Os Sertões de Euclides da Cunha, e aliás o subtítulo da música é Os sertões, então parece mesmo que tem haver(A faca marcada pela mesma vida seca como a terra rachada). E há ainda outro fato, que esse foi um dos mais marcantes, a palavra 'Ubiratan' pode não lembrar nada a vocês mas simplesmente Ubiratan Guimarães foi o coronel da PM que ordenou a invasão e o massacre na Penitenciária do Carandiru, em 1992. Quantos Ubiratans existem por ai? Vários.(Gigante como o coronelado dos grandes e pequenos sertões, como vários e vários e vários Ubiratans, com seus sanguinários batalhões). Acho que já deu pra entender a mensagem geral da música. A partir daqui, reflitam vocês sobre o mundo em que vivemos.

Se quiserem saber mais sobre as músicas do cd Transfiguração e sobre a banda:




Vocês podem achar que esse post não tem muito haver como o blog, mas na verdade tem. Todas as músicas desse cd tem uma referência à literatura, nesses dois primeiros sites tem falando sobre isso. Não relatei(de forma rápida) todas porque quis ressaltar essa em especial, quis entrar mesmo no assunto. E difícil dizer isso, mas acho que a melhor desse cd.


Lembrem-se: "...devo estar prestes, que meus ombros não se devem curvar, que meus olhos não se devem deixar intimidar..." (Vinicius de Moraes)
Com carinho, Rosália Souza.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Ensaio sobre a cegueira

"Está morta, disse a mulher do médico, e a sua voz não tinha nenhuma expressão, se era possível uma voz assim, tão morta como a palavra que dissera, ter saído de uma boca viva. Levantou em braços o corpo subitamente desconjuntado, as pernas ensaguentadas, o ventre espancado, os pobres seios descobertos, marcados com fúria, uma mordedura num ombro, Este é o retrato do meu corpo, pensou, o retrato do corpo de quantas aqui vamos, entre estes insultos e as nossas dores não há mais do que uma diferença, nós, por enquanto, ainda estamos vivas."

Eis aqui uma das mais marcantes passagens do livro Ensaio sobre a cegueira de José Saramago, escritor português ganhador do nobel em literatura.
Pra quem não conhece esse livro conta a história de uma sociedade em que todos ficaram repentinamente cegos, e junto com a visão foi-se também a idéia de humanização. A história se segue relatando um verdadeiro inferno, como se pode ver nesta passagem, em que mulheres bem ditas na sociedade precisam se dar aos malévolos para garantir seu pão de cada dia.
Leiam o livro, é mais interessante do que eu falando.. Rs...
E sim, há rumores de que será lançado um filme baseado nesse livro, ou melhor, mais do que rumores há notas na internet..
http://www.cinepop.com.br/filmes/ensaiosobrecegueira.htm





Cenas do filme Ensaio sobre a cegueira(Blindness)

Rosália Souza.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

"O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita, o amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.

O amor comeu minhas roupas, meus lenços e minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.
...
O amor comeu minha paz e minha guerra, meu dia e minha noite, meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte".

(incompleto)

Os três mal-amados - João Cabral de Melo Neto.
Muito lindo declamado por Lirinha, vocalista do Cordel do Fogo Encantado.
Pois é.. João Cabral de Melo Neto, "compreende"? Grande escritor.. ÉÉ! Primo do Manuel Bandeira e Gilberto Freyre; autor de Morte e Vida Severina, que foi musicado por Chico Buarque... E por aí vai :)
Aquele abraço, Rosália Souza.

domingo, 22 de junho de 2008

Mestre Caeiro.

Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol.
Ambos existem; cada um como é.



• É talvez o último dia da minha vida.
Saudei o sol, levantando a mão direita.
Mas não o saudei, dizendo-lhe adeus,
Fiz sinal de gostar de o ver antes: mais nada.


{Alberto Caeiro}
Heterônimo de Fernando Pessoa, Alberto Caeiro é considerado o mestre supremo de todos os heterônimos de Pessoa, homem do campo, Caeiro é o 'poeta sensação', ligado às percepções e à natureza. {Pertencente ao Modernismo Português}
Poemas extraídos do livro: Poemas Completos de Alberto Caeiro.

Ah, e a foto é do jardim lá de casa, xD~
Excelente semana para todos. :*

Danilo Sátiro.

domingo, 8 de junho de 2008

Ler Clarice é...

Ler Clarice é viver em permanente estado de paixão.
Ler Clarice exige uma mudança de postura do leitor no modo pelo qual ele se aproxima do texto. É que o texto de Clarice pede uma escuta atenta, uma entrega de quem o lê. Clarice fala de coisas presentes no nosso dia-a-dia, o modo pelo qual reagimos aos acontecimentos mais banais, como andar na rua, olhar-se ao espelho ou conversar com um amigo. Ela nos mostra, também, outras coisas vivenciadas interiormente, aqueles momentos sem palavras dos quais só o nosso coração testemunha.

Clarice escreve textos como quem vai desvelando a realidade, sondando os gestos, os olhares; tudo tão sutilmente que quando o leitor se dá conta vê-se diante de um instante mágico, especial, ao reconhecer a sua vida, a si mesmo, através daquelas palavras.Ler Clarice é uma oportunidade de mudar o seu olhar diante do universo. É estar disponível para se aventurar no seu interior de forma irracional, sem censuras. Deixar-se levar pela imaginação, pela intuição e usá-las como forma de conhecimento.

Ao publicar A paixão segundo G.H., Clarice escreveu uma pequena nota introdutória onde pedia que este livro só fosse lido por pessoas de alma já formada. Isso mostra até que ponto pode-se absorver o que o seu texto diz. Ao ler Clarice deve-se estar disposto a aceitar o não entendimento de determinados processos da vida. Clarice dizia: “Suponho que entender não seja uma questão de inteligência, mas uma questão de sentir, de entrar em contato.” Isso faz parte do caminho aberto pelo seu texto. Cada leitor contém a sua bagagem particular de experiências, sensações, acionadas no momento da leitura; Clarice sabe disso e valoriza estas particularidades. Seu texto é um convite permanente ao "viver ultrapassa todo o entendimento" (palavras de Clarice).

Clarice escreveu crônicas, contos, romances, livros infantis, reportagens, páginas femininas, uma peça teatral, enfim, exercitou-se em diferentes registros de textos, mas imprimiu sua marca em todos eles: o texto interroga, faz o natural parecer sobrenatural, imprime um sentido ainda desconhecido por nós.

Viver essa experiência de ser leitor de Clarice é uma aventura no que ela tem de imprevisível, surpreendente, perigoso, ao mesmo tempo é um presente porque quando se está lendo Clarice você se sente especial dentro deste universo criado por ela. Especial porque você consegue se reconhecer como um ser humano cheio de limitações, sujeito às adversidades da vida, ao fracasso, às crises, mas também capaz de trilhar um caminho repleto de descobertas, de sustos, de grandes alegrias, de momentos de êxtase, vertigens, delírios.
Ler Clarice é a possibilidade de viver intensamente o que se é.

(Teresa Montero)

Teresa Montero é doutora em Letras pela PUC-Rio, autora de Eu sou uma pergunta – uma biografia de Clarice Lispector (1999), organizadora de Correspondências – Clarice Lispector (2002), Outros escritos e Aprendendo a viver imagens.

Retirado do site:
http://www.claricelispector.com.br/
Visitem, muito bom! =)


Danilo Sátiro.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Referência ao Modernismo

Amar

Que pode uma criatura senão,
senão entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

Carlos Drummond de Andrade.



Estudando o Modernismo vejo coisas muito legais. Esse grito ao direito da voz brasileira, essa agitação, fazer algo e não deixar que ditem nossas regras, literalmente, recriar o Brasil. Drummond não é meu preferiro, mas reconheço o quanto, como tantos outros, ele é bom. De Clarice nem preciso falar. Cecília, Graciliano com suas inovações, Rachel de Queirós representando a voz feminina.. Mundinho fascinante =) Por isso hoje e sempre, se interessem por literatura! Essa arte vai além de palavrinhas difíceis dispostas em métricas, ela é na verdade um relato, uma reflexão de tudo aquilo que nos ronda, por tanto é indispensável que leiamos para que não nos tornemos alienados e possamos, como nossos antecepassados, ter direito à um grito brasileiro.

Rosália Souza.

terça-feira, 6 de maio de 2008

M.B.




















Balada do rei das sereias
(Dorival Caymmi e Manuel Bandeira)

O rei atirou
Seu anel ao mar
E disse às sereias:
- Ide-o lá buscar,
Que se o não trouxerdes
Virareis espuma
Das ondas do mar!

Foram as sereias,
Não tardou, voltaram
Com o perdido anel
Maldito o capricho
De rei tão cruel!

O rei atirou
Grãos de arroz ao mar
E disse às sereias:
- Ide-os lá buscar,
Que se os não trouxerdes
Virareis espuma
Das ondas do mar!

Foram as sereias
Não tardou, voltaram,
Não faltava um grão.
Maldito capricho
De mau coração!

O rei atirou
Sua filha ao mar
E disse às sereias:
- Ide-a lá buscar,
Que se a não trouxerdes
Virareis espuma
Das ondas do mar!

Foram as sereias...
Quem as viu voltar?...
Não voltaram nunca!
Viraram espuma
Das ondas do mar.







Dorival Caymmi? Sim, foi assim que achei na internet, mas não tenho certeza, pois no livro que estou lendo de M.B. não faz nenhuma menção à este fato. E sobre o livro, o dito cujo é Estrela da vida inteira, reune sua poesia completa, é óóttimo!
Pobre Manuel, teve uma vida tão atormentada, como deve ser viver esperando a morte?

Bem, não é um poema ÓÓÓ :O, mas eu achei super engraçadinho! Quando li, gostei =)
E pra fugir um pouquinho da minha eterna temática, ninguém merece tanta tristeza.. rs..

Bem, sem mais demora.. Abraço!


Rosália Souza.

domingo, 20 de abril de 2008

Clarice Lispector

"...Porque eu me imaginava mais forte.
Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado:
pensava que, somando as compreensões, eu amava.
Não sabia que somando as incompreensões é que se ama verdadeiramente.
...Porque eu, só por ter tido cari:o, pensei que amar é fácil.
É porque eu não quis o amor solene,
sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda
...É porque sempre tento chegar pelo meu modo.
É porque ainda não sei ceder.
É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria e não o que é.
É porque ainda não sou eu mesma,
e então o castigo é amar um mundo que não é ele..."



" Ao mesmo tempo que ousava desvelar as profundezas de sua alma em seus escritos, Clarice Lispector costumava evitar declarações excessivamente íntimas nas entrevistas que concedia, tendo afirmado mais de uma vez que jamais escreveria uma autobiografia. Contudo, nas crônicas que publicou no Jornal do Brasil entre 1967 e 1973, deixou escapar de tempos em tempos confissões que, devidamente pinçadas, permitem compor um auto-retrato bastante acurado, ainda que parcial. Isto porque Clarice por inteiro só os verdadeiramente íntimos conheceram e, ainda assim, com detalhes ciosamente protegidos por zonas de sombra. A verdade é que a escritora, que reconhecia com espanto ser um mistério para si mesma, continuará sendo um mistério para seus admiradores, ainda que os textos confessionais aqui coligidos possibilitem reveladores vislumbres de sua densa personalidade. "
{Pedro Karp Vasquez}
-

Fragmentos retirados do site: http://www.claricelispector.com.br/
Visitem, muito bom o site.
E os próximos posts serão referidos a nossa querida e admirável Clarice.
Abraço, Danilo Sátiro.

sábado, 5 de abril de 2008

Salvador Dali

Metamorfose de Narciso

Quadro de Salvador Dali análogo à lenda de Narciso: homem que era fissurado pela própria beleza e ia comtemplar-se todos os dias no reflexo do rio, mas certo dia, caiu no rio e morreu afogado. No lugar onde morreu, brotou uma flor a qual denominaram 'Narciso'.


"Salvador Dalí (Figueres, 11 de Maio de 1904 — Figueres, 23 de Janeiro de 1989) foi um importante pintor catalão, conhecido pelo seu trabalho surrealista. O trabalho de Dalí chama a atenção pela incrível combinação de imagens bizarras, como nos sonhos, com excelente qualidade plástica. Dalí foi influenciado pelos Mestres da Renascença, e foi um artista com grande talento e imaginação. Tinha uma reconhecida paixão por atitudes e por fazer coisas extravagantes destinadas a chamar a atenção, o que por vezes aborrecia aqueles que apreciavam a sua arte, ao mesmo tempo que incomodava os seus críticos, uma vez que a sua forma de estar teatral e excêntrica tendia a eclipsar o seu trabalho no que à notoriedade diz respeito."

Salvador Dali foi um dos maiores expoentes do Surrealismo(vanguarda européia)



Pense um artista que inquieta! Os quadros de Dali são muito intrigantes e cada vez mais que conheço me surpreendo.. Confiram ai algumas obras desse magnífico pintor espanhol!

http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.andreiaeluiz.com.br/Fotos/sd24.jpg&imgrefurl=http://www.andreiaeluiz.com.br/salvador1.htm&h=398&w=448&sz=37&hl=pt-BR&start=2&tbnid=JSG7WqVydg5MBM:&tbnh=113&tbnw=127&prev=/images%3Fq%3Dcanibalismo%2Bde%2Boutono%26gbv%3D2%26hl%3Dpt-BR



Com carinho, Rosália Souza

segunda-feira, 17 de março de 2008

Carlos Drummond de Andrade

Ausência

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

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Amor e Seu Tempo

Amor é privilégio de maduros
estendidos na mais estreita cama,
que se torna a mais larga e mais relvosa,
roçando, em cada poro, o céu do corpo.

É isto, amor: o ganho não previsto,
o prêmio subterrâneo e coruscante,
leitura de relâmpago cifrado,
que, decifrado, nada mais existe.

Valendo a pena e o preço do terrestre,
salvo o minuto de ouro no relógio
minúsculo, vibrando no crepúsculo.

Amor é o que se aprende no limite,
depois de se arquivar toda a ciência
herdada, ouvida.
Amor começa tarde.

Poeta, cronista, contista e tradutor brasileiro. Sua obra traduz a visão de um individualista comprometido com a realidade.O poeta trabalha sobretudo com o tempo, em sua cintilação cotidiana e subjetiva, no que destila do corrosivo, no que desmonta, dispersa, desarruma, do berço ao túmulo - do indivíduo ou de uma cultura.
Em Sentimento do mundo (1940), em José (1942) e sobretudo em A rosa do povo (1945), Drummond lançou-se ao encontro da história contemporânea e da experiência coletiva, participando, solidarizando-se social e politicamente, descobrindo na luta a explicitação de sua mais íntima apreensão para com a vida como um todo. A surpreendente sucessão de obras-primas, nesses livros, indica a plena maturidade do poeta, mantida sempre.

Danilo Sátiro.

sexta-feira, 14 de março de 2008

Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.

Fernando Pessoa

É, Fernando Pessoa tá em alta aqui nesse blog. Mas é porque sempre tem coisas legais dele.. Então, vamos postar =) Aliás, postar aqui está difícil. Maaaass, na medida do possível, mechendo uns pauzinhos aqui outros ali, traremos aos poucos poemas pra vocês =)
Abraço pessoal! Rosália Souza.

terça-feira, 4 de março de 2008

Álvares de Azevedo


Anjos do mar

As ondas são anjos que dormem no mar,
Que tremem, palpitam, banhados de luz...
São anjos que dormem, a rir e sonhar
E em leito d'escuma revolvem-se nus!

E quando de noite vem pálida a lua
Seus raios incertos tremer, pratear,
E a trança luzente da nuvem flutua,
As ondas são anjos que dormem no mar!

Que dormem, que sonham- e o vento dos céus
Vem tépido à noite nos seios beijar!
São meigos anjinhos, são filhos de Deus,
Que ao fresco se embalam do seio do mar!

E quando nas águas os ventos suspiram,
São puros fervores de ventos e mar:
São beijos que queimam... e as noites deliram,
E os pobres anjinhos estão a chorar!

Ai! quando tu sentes dos mares na flor
Os ventos e vagas gemer, palpitar,
Por que não consentes, num beijo de amor
Que eu diga-te os sonhos dos anjos do mar?



Soneto VII

Já da morte o palor me cobre o rosto,
Nos lábios meus o alento desfalece,
Surda agonia o coração fenece,
E devora meu ser mortal desgosto!

Do leito embalde no macio encosto
Tento o sono reter!... já esmorece
O corpo exausto que o repouso esquece...
Eis o estado em que a mágoa me tem posto!

O adeus, o teu adeus, minha saudade,
Fazem que insano do viver me prive
E tenha os olhos meus na escuridade,

Dá-me a esperança com que o ser mantive!
Volve ao amante os olhos por piedade,
Olhos por quem viveu quem já não vive!



Um poeta que ainda não teve um espaçinho no nosso blog: Álvares de Azevedo, um dos maiores expoenetes da 2ª geração do Romantismo(o mal do século, ou Byronismo, por conta de Lord Byron, que serviu de grande inspiração para este poeta).
http://www.mundocultural.com.br/index.asp?url=http://www.mundocultural.com.br/literatura1/romantismo/alvares.htm

sábado, 1 de março de 2008

Fernando Pessoa!

Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.

A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós próprios.

Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.

Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te.
A resposta
Está além dos deuses.

Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.

{Ricardo Reis, 1-7-1916}



Nada sou, nada posso, nada sigo.
Trago, por ilusão, meu ser comigo.
Não compreendo compreender, nem sei
Se hei de ser, sendo nada, o que serei.
Fora disto, que é nada, sob o azul
Do lato céu um vento vão do sul
Acorda-me e estremece no verdor.
Ter razão, ter vitória, ter amor
Murcharam na haste morta da ilusão.
Sonhar é nada e não saber é vão.
Dorme na sombra, incerto coração.

{ Fernando Pessoa}


Danilo Sátiro!

domingo, 24 de fevereiro de 2008




Almost Blue
"Sirva-se de mais um drinque
A felicidade não estará no gelo,
mas quem sabe?
Aliás, quem sabe você não a encontre
no próximo gole?
Lembre-se de sorrir quando acenderem
o seu cigarro
e de não deixar a chama iluminar o descaso
que você tem em viver"

(Sem título)
"Seus olhos marejam com tanta felicidade.
Duas pedras cravadas em branco mármore,
pequenas bolotas castanho-escuro. Tão tristes
quanto umidecidas. Chora,
chora logo, antes que, de tanto conter-se,
seus olhos - em vez de lágrimas - rolem
feito bolas de gude."

Fernando Young, em Dores do Amor Romântico.

Fernanda Young tem seis romances publicados, incluindo "Atitmética", lançado pela Edioro em 2004. "Dores do amor Romântico" é o seu primeiro livro de poesia e, prevê a escritora, o único. Por este e outros motivos, trata-se de uma obra rara, onde o herói e voluntarioso amor, exposto com toda a sua coragem, precipitado, e claro, dor. Bem-vindo a este duelo, onde ninguém é poupado.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Fernanda_Young

Beeem.. Um pouco de literatura comtemporânea pra vocês. Fernanda Young tem apenas 38 aninhos, tem a biografia aí nesse site.

Blog estava desatualizado, porém não esquecido =) Sempre venho aqui e fico namorado ele.. Hehehe.. é um xodó só! Obrigado a todos que têm nos visitado. O motivo de não estarmos postando creio que seja tempo e material. Mas cá estou eu postando umas poesias pra vocês. Espero que gostem. Eu achei legal. E sim, créditos pra Tarcila Valéria, o livro de onde extraí as poesias é dela! Hhehehe.. Aproveitando a seção créditos: vejam(quem quiser) meu flickr, essa foto foi de lá.
http://www.flickr.com/photos/rosa_souza
Um beeeeijo. Rosália Souza.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Fernando Pessoa!


"Nesta vida, em que sou meu sono,
Não sou meu dono,
Quem sou é quem me ignoro e vive
Através desta névoa que sou eu
Todas as vidas que eu outrora tive,
Numa só vida.
Mar sou; baixo marulho ao alto rujo,
Mas minha cor vem do meu alto céu,
E só me encontro quando de mim fujo.

Quem quando eu era infante me guiava
Senão a vera alma que em mim estava?
Atada pelos braços corporais,
Não podia ser mais.
Mas, certo, um gesto, olhar ou esquecimento
Também, aos olhos de quem bem olhasse
A Presença Real sob disfarce
Da minha alma presente sem intento."

Fernando Pessoa, nascido em Lisboa no dia 13 de junho de 1888, foi aclamado não apenas como o maior poeta português do século XX, como também figura entre os melhores do mundo.
Sua obra complexa e com forte teor filosófico suscitou, em um ensaio crítico, a indicação de Roman Jakobson (lingüista russo), para que seu nome seja incluso entre artistas do porte de James Joyce, Pablo Picasso e Igor Stravinski.
Danilo Sátiro.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Ainda uma vez Adeus - Gonçalves Dias

I - Enfim te vejo! — enfim posso, Curvado a teus pés, dizer-te, Que não cessei de querer-te, Pesar de quanto sofri.Muito penei! Cruas ânsias, Dos teus olhos afastado, Houveram-me acabrunhadoA não lembrar-me de ti!
II - Dum mundo a outro impelido, Derramei os meus lamentosNas surdas asas dos ventos, Do mar na crespa cerviz!Baldão, ludíbrio da sorteEm terra estranha, entre gente, Que alheios males não sente, Nem se condói do infeliz!
III - Louco, aflito, a saciar-meD'agravar minha ferida,Tomou-me tédio da vida,Passos da morte senti;Mas quase no passo extremo,No último arcar da esp'rança,Tu me vieste à lembrança:Quis viver mais e vivi!
IV - Vivi; pois Deus me guardavaPara este lugar e hora!Depois de tanto, senhora,Ver-te e falar-te outra vez;Rever-me em teu rosto amigo,Pensar em quanto hei perdido,E este pranto doloridoDeixar correr a teus pés.
V - Mas que tens? Não me conheces?De mim afastas teu rosto?Pois tanto pôde o desgostoTransformar o rosto meu?Sei a aflição quanto pode,Sei quanto ela desfigura,E eu não vivi na ventura...Olha-me bem, que sou eu!
VI - Nenhuma voz me diriges!...Julgas-te acaso ofendida?Deste-me amor, e a vidaQue me darias — bem sei;Mas lembrem-te aqueles ferosCorações, que se meteramEntre nós; e se venceram,Mal sabes quanto lutei!
X - Tudo, tudo; e na misériaDum martírio prolongado,Lento, cruel, disfarçado,Que eu nem a ti confiei;"Ela é feliz (me dizia)"Seu descanso é obra minha."Negou-me a sorte mesquinha...Perdoa, que me enganei.
XVI - Dói-te de mim, que t'imploroPerdão, a teus pés curvado;Perdão!... de não ter ousadoViver contente e feliz!Perdão da minha miséria,Da dor que me rala o peito,E se do mal que te hei feito,Também do mal que me fiz!
XVII - Adeus qu'eu parto, senhora;Negou-me o fado inimigoPassar a vida contigo,Ter sepultura entre os meus;Negou-me nesta hora extrema,Por extrema despedida,Ouvir-te a voz comovidaSoluçar um breve Adeus!
XVIII - Lerás porém algum diaMeus versos d'alma arrancados,D'amargo pranto banhados,Com sangue escritos; — e entãoConfio que te comovas,Que a minha dor te apiadeQue chores, não de saudade,Nem de amor, — de compaixão,
Bem, como vocês deve ter percebido o poema não está completo. Ele realmente muito grande, então escolhi os versos mais marcantes do poema, quer quiser o link está aí em cima, e conferir o poema todo.
Gonçalves Dias , grande poeta do Romantismo da primeira geração,conhecida também como nacionalista ou indianista, é considerado o consolidador do Romantismo no Brasil.
No link acima, também traz informações do poeta. Quem quiser conferir, não irá se arrepender.
Desculpem a ausência,mas as aulas começaram e isso complica um pouco, mas faremos o possível para sempre atualizar o blog! E é isso,boa semana a todos e muita literatura! ^^
Danilo Sátiro.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Perfeição

Vamos celebrar a estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja de assassinos
Covardes, estupradores e ladrões
Vamos celebrar a estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar nosso governo
E nosso Estado, que não é nação
Celebrar a juventude sem escola
As crianças mortas
Celebrar nossa desunião
Vamos celebrar Eros¹ e Thanatos²
Persephone³
e Hades4
Vamos celebrar nossa tristeza
Vamos celebrar nossa vaidade.

Vamos comemorar como idiotas
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
Os mortos por falta de hospitais
Vamos celebrar nossa justiça
A ganância e a difamação
Vamos celebrar os preconceitos
O voto dos analfabetos
Comemorar a água podre
E todos os impostos
Queimadas, mentiras e seqüestros
Nosso castelo de cartas marcadas
O trabalho escravo
Nosso pequeno universo
Toda hipocrisia e toda afetação
Todo roubo e toda a indiferença
Vamos celebrar epidemias:
É a festa da torcida campeã.

Vamos celebrar a fome
Não ter a quem ouvir
Não se ter a quem amar
Vamos alimentar o que é maldade
Vamos machucar um coração
Vamos celebrar nossa bandeira
Nosso passado de absurdos gloriosos
Tudo o que é gratuito e feio
Tudo que é normal
Vamos cantar juntos o Hino Nacional
(A lágrima é verdadeira)
Vamos celebrar nossa saudade
E comemorar a nossa solidão.

Vamos festejar a inveja
A intolerância e a incompreensão
Vamos festejar a violência
E esquecer a nossa gente
Que trabalhou honestamente a vida inteira
E agora não tem mais direito a nada
Vamos celebrar a aberração
De toda a nossa falta de bom senso
Nosso descaso por educação
Vamos celebrar o horror
De tudo isso - com festa, velório e caixão
Está tudo morto e enterrado agora
Já que também podemos celebrar
A estupidez de quem cantou esta canção.

Venha, meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão.

Venha, o amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera -
Nosso futuro recomeça:
Venha, que o que vem é perfeição


Renato Russo



Eros¹: deus grego do amor(cupido)
Thanatos²: no grego, personificação da morte
Peserphone³: Filha de Zeus, esposa de Hades
Hades4: Deus das trevas



Música de Renato Russo. Irônica e verdadeira. Rapaz.. Essa letra é um choque! Ainda que saibamos que tudo nela é verdade. E no final, a parte em itálico, dá uma esperança.. Enfim, essa é uma música que toca você, Renato tinha essa capacidade, tocar as pessoas com suas letras que têm sempre mensagens interessantes.
E quem quiser a música, já sabe como né? Email nos comentários.

Para conhecê-lo:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Renato_Russo

Com carinho, Rosália Souza.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

A Moreninha

“...assim como o grito tem o eco, a flor o aroma e a dor o gemido, tem o amor o suspiro; ah! o amor é demoninho que não pede para entrar no coração da gente e, hóspede quase sempre importuno, por pior trato que lhe dê, não desconfia, não se despede, vai-se colocando e deixando ficar, sem vergonha nenhuma, faz-se dono da casa alheia, toma conta de todas as ações, leva o seu domínio muito cedo aos olhos, e às vezes dá tais saltos no coração, que chega a ir encarapitar-se no juízo.”

"..nas lágrimas de amor há, como na saudade, uma doce amargura, que é veneno que não mata, por vir sempre temperado com o reativo da esperança.."

"...como é sublime deitar-se o estudante no solitário leito e ver-se acompanhado pela imagem da bela que lhe vela no pensamento, ou despertar ao momento de ver-se em sonhos sorvendo-lhe nos lábios voluptuosos beijos!"

Trechos do romance romântico A Moreninha. Escrito por um dos maiores expoentes do Romantismo, um dos fundadores do romance no Brasil, Joaquim Manuel de Macedo.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Joaquim_Manuel_de_Macedo
Um dos romances que iniciou o Romantismo foi extamente A Moreninha e inspirou dois filmes e duas novelas da Globo, a segunda novela foi a pioneira exibida em cores pela Globo. Ah, virou até ópera!
Eu pensei em colocar uns videozinhos das novelas, mas é muito piegas! Rsrs.. Ler o livro é bem mais emocionante! Particularmente, como sou uma romântica boba(rsrs), eu adorei!
Então é isso, vou ficando por aqui.. "Aqueeeellee abraaço"
Rosália Souza.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Camões!

º Erros meus, má fortuna, amor ardente
Em minha perdição se conjuraram;
Os erros e a fortuna sobejaram,
Que para mim bastava amor somente.

Tudo passei; mas tenho tão presente
A grande dor das cousas que passaram,
Que as magoadas iras me ensinaram
A não querer já nunca ser contente.

Errei todo o discurso de meus anos;
Dei causa [a] que a Fortuna castigasse
As minhas mal fundadas esperanças.

De amor não vi senão breves enganos.
Oh! quem tanto pudesse, que fartasse
Este meu duro Gênio de vinganças! º

º Busque Amor novas artes, novo engenho,
Para matar-me, e novas esquivanças;
que não pode tirar-me as esperanças,
que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas, conquanto não pode haver desgosto
onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.
Que dias há que n’alma me tem posto
um não sei quê, que nasce não sei onde,
vem não sei como, e dói não sei porquê. º


Camões é considerado, até hoje, o maior poeta português. Contudo, pouco se sabe sobre sua vida. Foi decerto, um homem do mundo, viajando por três continentes.
Tenta-se reconstruir um pouco da vida do poeta através de suas cartas e versos. Pela sua cultura e por alguns outros vestígios encontrados por historiadores, supõe-se que tenha passado por Coimbra, embora não tenha estudado regularmente na universidade local. Ainda jovem, serviu ao exército em Ceuta, onde perdeu um olho. Morou ainda por muito tempo no Oriente, em Macau e em Moçambique. Salvou-se a nado de um naufrágio na costa de Goa; supostamente, além de sua vida, também teria salvo os originais de Os Lusíadas. Voltou a Lisboa, onde viveu miseravelmente até a sua morte.
Imprimiu em todos os seus versos, tanto os históricos quantos os amorosos, a sua vivência pessoal – que não foi a vivência de um homem comum, mas de alguém de vasta cultura e temperamento de homem de ação.
Alguns de seus poemas líricos foram publicados ainda em vida, espalhados em outras obras, mas só foram reunidos em Rimas, quinze anos após sua morte. Nele, aparece o amor idealizado e inatingível, mas também a paixão carnal.
Já o épico Os Lusíadas foi publicado em 1572, rendendo ao poeta fama imediata e uma pensão vitalícia – que raramente chegou as suas mãos.
Inspirado na Eneida de Virgílio, buscou imortalizar as glórias do império português em 1102 estrofes, rimas em disposição ab-ab-ab-cc e versos decassílabos heróicos e sáficos.
É isso ae,Danilo Sátiro.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Mensagem à poesia

Não posso
Não é possível
Digam-lhe que é totalmente impossível
Agora não pode ser
É impossível
Não posso.
Digam-lhe que estou tristíssimo, mas não posso ir esta noite ao seu encontro.

Contem-lhe que há milhões de corpos a enterrar
Muitas cidades a reerguer, muita pobreza pelo mundo.
Contem-lhe que há uma criança chorando em alguma parte do mundo
E as mulheres estão ficando loucas, e há legiões delas carpindo
A saudade de seus homens; contem-lhe que há um vácuo
Nos olhos dos párias, e sua magreza é extrema; contem-lhe
Que a vergonha, a desonra, o suicídio rondam os lares, e é precisoreconquistar a vida
Façam-lhe ver que é preciso eu estar alerta, voltado para todos os caminhos
Pronto a socorrer, a amar, a mentir, a morrer se for preciso.
Ponderem-lhe, com cuidado – não a magoem... – que se não vou
Não é porque não queira: ela sabe; é porque há um herói num cárcere
Há um lavrador que foi agredido, há um poça de sangue numa praça.
Contem-lhe, bem em segredo, que eu devo estar prestes, que meus
Ombros não se devem curvar, que meus olhos não se devem
Deixar intimidar, que eu levo nas costas a desgraça dos homens
E não é o momento de parar agora; digam-lhe, no entanto
Que sofro muito, mas não posso mostrar meu sofrimento
Aos homens perplexos; digam-lhe que me foi dada
A terrível participação, e que possivelmente
Deverei enganar, fingir, falar com palavras alheias
Porque sei que há, longínqua, a claridade de uma aurora.
Se ela não compreender, oh procurem convencê-la
Desse invencível dever que é o meu; mas digam-lhe
Que, no fundo, tudo o que estou dando é dela, e que me
Dói ter de despojá-la assim, neste poema; que por outro lado
Não devo usá-la em seu mistério: a hora é de esclarecimento
Nem debruçar-me sobre mim quando a meu lado
Há fome e mentira; e um pranto de criança sozinha numa estrada
Junto a um cadáver de mãe: digam-lhe que há
Um náufrago no meio do oceano, um tirano no poder, um homem
Arrependido; digam-lhe que há uma casa vazia
Com um relógio batendo horas; digam-lhe que há um grande
Aumento de abismos na terra, há súplicas, há vociferações
Há fantasmas que me visitam de noite
E que me cumpre receber, contem a ela da minha certeza
No amanhã
Que sinto um sorriso no rosto invisível da noite
Vivo em tensão ante a expectativa do milagre; por isso
Peçam-lhe que tenha paciência, que não me chame agora
Com a sua voz de sombra; que não me faça sentir covarde
De ter de abandoná-la neste instante, em sua imensurável
Solidão, peçam-lhe, oh peçam-lhe que se cale
Por um momento, que não me chame
Porque não posso ir
Não posso ir
Não posso.

Mas não a traí. Em meu coração
Vive a sua imagem pertencida, e nada direi que possa
Envergonhá-la. A minha ausência
É também um sortilégio
Do seu amor por mim. Vivo do desejo de revê-la
Num mundo em paz. Minha paixão de homem
Resta comigo; minha solidão resta comigo; minha
Loucura resta comigo. Talvez eu deva
Morrer sem vê-Ia mais, sem sentir mais
O gosto de suas lágrimas, olhá-la correr
Livre e nua nas praias e nos céus
E nas ruas da minha insônia. Digam-lhe que é esse
O meu martírio; que às vezes
Pesa-me sobre a cabeça o tampo da eternidade e as poderosas
Forças da tragédia abastecem-se sobre mim, e me impelem para a treva
Mas que eu devo resistir, que é preciso...
Mas que a amo com toda a pureza da minha passada adolescência
Com toda a violência das antigas horas de contemplação extática
Num amor cheio de renúncia. Oh, peçam a ela
Que me perdoe, ao seu triste e inconstante amigo
A quem foi dado se perder de amor pelo seu semelhante
A quem foi dado se perder de amor por uma pequena casa
Por um jardim de frente, por uma menininha de vermelho
A quem foi dado se perder de amor pelo direito
De todos terem um pequena casa, um jardim de frente
E uma menininha de vermelho; e se perdendo
Ser-lhe doce perder-se...
Por isso convençam a ela, expliquem-lhe que é terrível
Peçam-lhe de joelhos que não me esqueça, que me ame
Que me espere, porque sou seu, apenas seu; mas que agora
É mais forte do que eu, não posso ir
Não é possível
Me é totalmente impossível
Não pode ser não
É impossível
Não posso.

Vinícius de Moraes


É enorme! Mas está entre uma das minhas preferidas, pra mim é perfeita.
Tenho uma interpretação muito pessoal dela, por isso não posso dividir com vocês.. Mas vejo também algo que muitos se lerem atentamente perceberão: é como se fosse uma pequena ruptura com a poesia, diante de tantas cosias que se passam aos olhos, que podem ser repugnates ou amáveis, é importante que ele esteja ao lado, pois ele também é humano, e tbm sofre, também ama, é o seu destino.
Este poema está no livro "Antologia Poética"(1960, pág 160) e também no cd de mesmo nome onde Vinícius com a participação de Toquinho, Edu Lobo e outros recita os poemas. É lindo! Quem quiser escutar, deixe por favor o email nos comentários =) A voz de Vinícius é uma coisa impressionante, guarda alguma ternura, apesar de algumas palavras duras.. "palavras duras em voz de veludo"(Paralamas do sucesso), é como eu calissificaria. E ainda tem um instrumental de fundo belíssimo! Piano.. Nossa, de chorar!
Mas é isso, post fica por aqui. Abraço pessoal!
Rosália Souza.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Carlos Drummond de Andrade


- Amor e Seu Tempo


Amor é privilégio de maduros
Estendidos na mais estreita cama,
Que se torna a mais larga e mais relvosa,
Roçando, em cada poro, o céu do corpo.

É isto, amor: o ganho não previsto,
O prêmio subterrâneo e coruscante,
Leitura de relâmpago cifrado,

Que, decifrado, nada mais existe
Valendo a pena e o preço do terrestre,
Salvo o minuto de ouro no relógio
Minúsculo, vibrando no crepúsculo.

Amor é o que se aprende no limite,
Depois de se arquivar toda a ciência
Herdada, ouvida. amor começa tarde.


- Memória

Amar o perdido
deixa confundido este coração.
Nada pode o olvido.
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.
Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.

Com Carinho,Danilo Sátiro.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008



Retrato

Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.

Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração que nem se mostra.

Eu não dei por esta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida a minha face?

Cecília Meireles




Foi difícil escolher um pra colocar aqui. Pensei em colocar um bem conhecido (que quiser vê-lo.. http://www.geocities.com/fedrasp/motivo.html), mas optei por esse aí, gostei. E me lembra uma música do Nando Reis, Não vou me adaptar, mais uma vez quem quiser.. Passo por email..

Um pouco de Cecília pra vcs:
"Poetisa, professora, pedagoga e jornalista, cuja poesia lírica e altamente personalista, freqüentemente simples na forma mas contendo imagens e simbolismos complexos, deu a ela importante posição na literatura brasileira do século XX. Nasceu no Rio de Janeiro e faleceu na mesma cidade. Casou-se duas vezes e deixou três filhas.
Órfã desde os 3 anos, foi criada pela avó. Desde cedo habituou-se ao exercício da solidão, tendo precocemente desenvolvido sua consciência e sensibilidade. Começou a escrever poesia aos 9 anos de idade. Tornou-se prefessora pública aos 16, destacando-se como aluna exemplar, merecendo a estima dos mestres. Dois anos depois iniciou sua carreira literária com a publicação de Espectros(1919), uma coleção de sonetos simbolistas."

Abraço, pessoal! o/
Rosália Souza.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Olavo Bilac!




O Pássaro Cativo – Olavo Bilac


Armas, num galho de árvore, o alçapão;
E, em breve, uma avezinha descuidada,
Batendo as asas cai na escravidão.
Dás-lhe então, por esplêndida morada,
A gaiola dourada;
Dás-lhe alpiste, e água fresca, e ovos, e tudo:
Porque é que, tendo tudo, há de ficar
O passarinho mudo,
Arrepiado e triste, sem cantar?
É que, crença, os pássaros não falam.
Só gorjeando a sua dor exalam,
Sem que os homens os possam entender;
Se os pássaros falassem,
Talvez os teus ouvidos escutassem
Este cativo pássaro dizer:
“Não quero o teu alpiste!
Gosto mais do alimento que procuro
Na mata livre em que a voar me viste;
Tenho água fresca num recanto escuro
Da selva em que nasci;
Da mata entre os verdores,
Tenho frutos e flores,
Sem precisar de ti!
Não quero a tua esplêndida gaiola!
Pois nenhuma riqueza me consola
De haver perdido aquilo que perdi...
Prefiro o ninho humilde, construído
De folhas secas, plácido, e escondido
Entre os galhos das árvores amigas...
Solta-me ao vento e ao sol!
Com que direito à escravidão me obrigas?
Quero saudar as pompas do arrebol!
Quero, ao cair da tarde,
Entoar minhas tristíssimas cantigas!
Por que me prendes? Solta-me covarde!
Deus me deu por gaiola a imensidade:
Não me roubes a minha liberdade ...
Quero voar! voar! ... “
Estas cousas o pássaro diria,
Se pudesse falar.
E a tua alma, criança, tremeria,
Vendo tanta aflição:
E a tua mão tremendo, lhe abriria
A porta da prisão...



Do livro: Poesias Infantis, Ed. Francisco Alves, 1929, RJ.


Membro fundador da Academia Brasileira de Letras, Olavo Bilac foi eleito Príncipe dos Poetas Brasileiros pela revista Fon-Fon em 1907. Juntamente com Alberto de Oliveira e Raimundo Correia, foi a maior liderança e expressão do parnasianismo no Brasil, constituindo a chamada Tríade Parnasiana.

O nome Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac, quando dividido em sílabas poéticas se torna um perfeito verso Alexandrino, este que é composto por doze sílabas. Em geral, o verso mais longo, em estrofes isométricas. Presente em poesias extremamente trabalhadas gramática e foneticamente, como as parnasianas.
Com Carinho,Danilo Sátiro.
E Rosália Maria,deixe de ser egoísta,viu? Todo mundo usa 'com carinho'...
E se tiver algum probelma fale comigo,num coloque no blog nem nada não,nossas pendências a gente resolve no msn.
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk, xD~

sábado, 19 de janeiro de 2008

Texto do romance Água Viva, Clarice Lispector

Sou inquieta, áspera
E desesperançada
Embora amor dentro de mim eu tenha
Só que eu não sei usar amor
Às vezes arranha
Feito farpa
Se tanto amor dentro de mim
Eu tenho, mas no entanto
Continuo inquieta
É que eu preciso que o Deus venha
Antes que seja tarde demais
Corro perigo
Como toda pessoa que vive
E a única coisa que me espera
É exatamente o inesperado
Mas eu sei
Que vou ter paz antes da morte
Que eu vou experimentar um dia
O delicado da vida
Vou aprender
Como se come e vive
O gosto da comida


Cazuza e Frejat musicaram esse texto, o intitularam "Que o Deus venha" e presentiaram Cássia Eller para interpretá-la.
Pois é, hoje misturando literatura, música.. Tudo numa coisa só =)
Cazuza se identificava muito com Clarice(e quem não?), era um grande 'fã'.. Ela odiaria esse termo! Hehehehe..
Bem, algumas informações no livro: Cássia Eller, Canção na voz de fogo. E quem quiser essa música é só deixar seu email nos comentários.

Vamo de Clarice mais um pouquinho? Sempre!
"Só no ato do amor – pela límpida abstração de estrela do que se sente – capta-se a incógnita do instante que é duramente cristalina e vibrante no ar e a vida é esse instante incontável, maior que o acontecimento em si."
Do romance 'Água Viva'. Quem quiser ler uns trechinhos desse livro: http://www.culturabrasil.org/clarice.htm

Hoje me dispeço sem carinho! Porque quando a gente dá carinho os outros roubam né sócio Danilo Sátiro? rsrsrs.. Abraço gente, Rosália Souza.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Luis Fernando Veríssimo - Quase


Quase

Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.

Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor, não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cór, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.

Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência, porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer. Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar. Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.




Luis Fernando Veríssimo é um escritor, jornalista, humorista e cronista brasileiro, filho do também escritor Érico Veríssimo. É o escritor que mais vende livros no Brasil.

Quer saber mais dele? Acesse sua biografia em: http://www.pensador.info/autor/Luis_Fernando_Verissimo/biografia/
Com Carinho,Danilo Sátiro.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Florbela Espanca - Desdém


Desdém

[Florbela Espanca]


Andas dum lado pro outro
Pela rua passeando;
Finges que não queres ver
Mas sempre me vais olhando.

É um olhar fugidio,
Olhar que dura um instante,
Mas deixa um rasto de estrelas
O doce olhar saltitante…

É esse rasto bendito
Que atraiçoa o teu olhar,
Pois é tão leve e fugaz
Que eu nem o sinto passar!

Quem tem uns olhos assim
E quer fingir o desdém,
Não pode nem um instante
Olhar os olhos d’alguém…

Por isso vai caminhando…
E se queres a muita gente
Demonstrar que me desprezas
Olha os meus olhos de frente! …





Florbela Espanca foi uma poetisa portuguesa.Precursora do movimento feminista em Portugal, Florbela teve uma vida tumultuada, inquieta, transformando seus sofrimentos íntimos em poesia da mais alta qualidade, carregada de erotização e feminilidade. Em 1903 Florbela Espanca escreveu a primeira poesia de que temos conhecimento, A Vida e a Morte. Casou-se no dia de seu aniversário em 1913, com Alberto Moutinho. Concluiu um curso de Letras em 1917, inscrevendo-se a seguir para cursar Direito, sendo a primeira mulher a freqüentar este curso na Universidade de Lisboa.
Tentou o suicídio por duas vezes em outubro e novembro de 1930, às vésperas da publicação de sua obra-prima, Charneca em Flor. Após o diagnóstico de um edema pulmonar, suicida-se no dia do seu aniversário, 8 de dezembro de 1930, ingerindo uma elevada dose de Veronal. Charneca em Flor viria a ser publicado em janeiro de 1931.


Com Carinho,Danilo Sátiro.