Amar
Que pode uma criatura senão,
senão entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
Carlos Drummond de Andrade.
Estudando o Modernismo vejo coisas muito legais. Esse grito ao direito da voz brasileira, essa agitação, fazer algo e não deixar que ditem nossas regras, literalmente, recriar o Brasil. Drummond não é meu preferiro, mas reconheço o quanto, como tantos outros, ele é bom. De Clarice nem preciso falar. Cecília, Graciliano com suas inovações, Rachel de Queirós representando a voz feminina.. Mundinho fascinante =) Por isso hoje e sempre, se interessem por literatura! Essa arte vai além de palavrinhas difíceis dispostas em métricas, ela é na verdade um relato, uma reflexão de tudo aquilo que nos ronda, por tanto é indispensável que leiamos para que não nos tornemos alienados e possamos, como nossos antecepassados, ter direito à um grito brasileiro.
Rosália Souza.
sexta-feira, 6 de junho de 2008
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Um comentário:
Záaa,
Que lindooo!
=)
Adorei. Realmente, cada vez que conheço mais o Modernismo eu admiro a coragem dos autores em quebrar as regras, em 'modernizar' o Brasil. Um exemplo para nós.
=)
beijoo ;*
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