quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Vinicíus de Moraes


• Soneto a Quatro Mãos

Tudo de amor que existe em mim foi dado.
Tudo que fala em mim de amor foi dito.
Do nada em mim o amor fez o infinito
Que por muito tornou-me escravizado.

Tão pródigo de amor fiquei coitado
Tão fácil para amar fiquei proscrito.
Cada voto que fiz ergueu-se em grito
Contra o meu próprio dar demasiado.

Tenho dado de amor mais que coubesse
Nesse meu pobre coração humano
Desse eterno amor meu antes não desse.

Pois se por tanto dar me fiz engano
Melhor fora que desse e recebesse
Para viver da vida o amor sem dano.

• Soneto De Separação

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo, distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

Desculpem esse rápido post, mas estamos ocupados, estudando.
Está difícil mas tentaremos o mais breve possível trazer inovações ao blog.
Bem, Vinicíus de Moraes dispensa comentários, não é mesmo?
Participou da Segunda Geração do Modernismo Brasileiro, enquadrou-se na poesia.
Vinicíus usou muito em suas obras o soneto, estilo clássico, estilo este que o Modernismo rejeitava.
Mas o Modernismo era tão liberal que era permitido até utilizar modelos que eles eram contra.
Bem, vou ficando por aqui. Quem quiser, confira algumas letras e poemas do nosso grande Vinicíus Moraes
.

sábado, 9 de agosto de 2008

Não sou alegre nem sou triste: sou poeta.


• Canção

No desequilíbrio dos mares,
as proas giram sozinhas...
Numa das naves que afundaram
é que certamente tu vinhas.

Eu te esperei todos os séculos
sem desespero e sem desgosto,
e morri de infinitas mortes
guardando sempre o mesmo rosto.

Quando as ondas te carregaram
meus olhos, entre águas e areias,
cegaram como os das estátuas,
a tudo quanto existe alheias.

Minhas mãos pararam sobre o ar
e endureceram junto ao vento,
e perderam a cor que tinham
e a lembrança do movimento.


E o sorriso que eu te levava
desprendeu-se e caiu de mim:
e só talvez ele ainda viva
dentro destas águas sem fim.


O que falar sobre a nossa Dama da Literatura?

Apesar da grandiosidade de suas obras, elas são extremamente suaves, simples.
Cecília Meireles consegui apresentar em suas obras a musicalidade, a efemeridade das coisas, a melancolia, o indefinido, a solidão.
Uma mistura de idéias que consegue fazer quem a lê, refletir sobre a vida, sobre o tempo.

É considerada a melhor de nossas poetisas modernas, quer pelos recursos expressivos, em contante busca da perfeição quer pela emoção que nos comunica.
Cecília viveu sua infância em companhia da avó, no Rio de Janeiro. Dedicou-se por vários anos ao magistério, de cuja experiência profissional resultou Criançam, meu amor, belíssimo livro para o curso de primeiro grau. Ministrou aulas de literatura brasileira e disciplinas correlatadas nas universidades federais do antigo Distrito Federal e do Texas (EUA). Viajou por vários países. Portugal foi o primeiro a reconhecer-lhe o mérito, antes mesmo que o Brasil a consagrasse como poetisa de extraordinário valor.

Abaixo, alguns sites interessantes sobre a nossa poetisa ou que contém algum conteúdo sobre ela.



Danilo Sátiro.

domingo, 3 de agosto de 2008

Pedra e Bala - Cordel do Fogo Encantado



Juntem as forças pra seguir nessa jornada
Busquem as forças pra lutar na sua própria batalha
A poeira subiu de ambos lados
Arames farpados olhos e punhos fechados e cerrados
A faca marcada pela mesma vida seca como a terra rachada
Uma sombra densa e pesasda eclipsando o que há de melhor na sua alma
O verdadeiro terror mais sufocante que o calor
Essa é a sua jaula
Os desertos se encontram de várias formas
Seja no espírito no solo ou na mente através de idéias tortas
Que produzem gente morta em escala industrial
Guerra pela terra
A pedra contra o tanque
Guerra altera a terra nada será como antes
Na inverção dos papéis do pequeno Davi contra Golias o gigante
Como os barões das mega corporações
Gigante como o coronelado dos grandes e pequenos sertões
Como vários e vários e vários Ubiratans
Com seus sanguinários batalhões
Que na sua prepotência e ignorância bélica
Não conseguirão perceber a força e a chegada certeira daquela pedra
Juntem as forças pra seguir nessa jornada
Busquem as forças pra lutar na sua própria batalha
Um beijo seco no portão do teu ouvido
Quebrando cercas pra chegar na nossa mira
A pedra curte a bala corre e voa
A pedra fura bala transpassa
A bala é quente e a pedra é crua como um gole de cachaça
Velho como teu projeto louco
Forte como quem chora de medo
Guerra pela terra
A pedra contra o tanque
Guerra altera a terra nada será como antes
Escuto em alto-falantes aquele som de cimento dessa muralha sem fim
E desejo q pedra e a bala
A santa paz fora do jogo
Pois o que fala alto é a pedra e bala
Naquela praça onde as crianças brincam,
Naquele prédio perto das estrelas
Naquele circo no qual quando chove não há espetáculo

Música enorme, eu sei, mas merece sem dúvida ser lida com muita atenção e ser entendida. Pra falar a verdade todo o cd Transfiguração merece ser escutado, lido, sentido e entendido. Sempre escutei demais e fui me tocando no que ela queria dizer: Guerras, conflitos, a impotência dos desfavorecidos contra aqueles que detém o poder e a liderança. Lendo algumas coisas na internet e ouvindo opiniões de amigos fui descobrindo que fatos mais concretos estão presente na letra, como a guerra na palestina: Lirinha e BNegão disseram em uma entrevista na TV Cultura que a idéia da letra começou a nascer ao verem uma imagem, acredito que seja esta no iníco do post, em que palestinos jogavam pedras em tanques de guerra(Guerra pela terra, a pedra contra o tanque). Ouvi interprtações dizendo também que a música representa a guerra de canudos, abordada na obra Os Sertões de Euclides da Cunha, e aliás o subtítulo da música é Os sertões, então parece mesmo que tem haver(A faca marcada pela mesma vida seca como a terra rachada). E há ainda outro fato, que esse foi um dos mais marcantes, a palavra 'Ubiratan' pode não lembrar nada a vocês mas simplesmente Ubiratan Guimarães foi o coronel da PM que ordenou a invasão e o massacre na Penitenciária do Carandiru, em 1992. Quantos Ubiratans existem por ai? Vários.(Gigante como o coronelado dos grandes e pequenos sertões, como vários e vários e vários Ubiratans, com seus sanguinários batalhões). Acho que já deu pra entender a mensagem geral da música. A partir daqui, reflitam vocês sobre o mundo em que vivemos.

Se quiserem saber mais sobre as músicas do cd Transfiguração e sobre a banda:




Vocês podem achar que esse post não tem muito haver como o blog, mas na verdade tem. Todas as músicas desse cd tem uma referência à literatura, nesses dois primeiros sites tem falando sobre isso. Não relatei(de forma rápida) todas porque quis ressaltar essa em especial, quis entrar mesmo no assunto. E difícil dizer isso, mas acho que a melhor desse cd.


Lembrem-se: "...devo estar prestes, que meus ombros não se devem curvar, que meus olhos não se devem deixar intimidar..." (Vinicius de Moraes)
Com carinho, Rosália Souza.