terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Camões!

º Erros meus, má fortuna, amor ardente
Em minha perdição se conjuraram;
Os erros e a fortuna sobejaram,
Que para mim bastava amor somente.

Tudo passei; mas tenho tão presente
A grande dor das cousas que passaram,
Que as magoadas iras me ensinaram
A não querer já nunca ser contente.

Errei todo o discurso de meus anos;
Dei causa [a] que a Fortuna castigasse
As minhas mal fundadas esperanças.

De amor não vi senão breves enganos.
Oh! quem tanto pudesse, que fartasse
Este meu duro Gênio de vinganças! º

º Busque Amor novas artes, novo engenho,
Para matar-me, e novas esquivanças;
que não pode tirar-me as esperanças,
que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas, conquanto não pode haver desgosto
onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.
Que dias há que n’alma me tem posto
um não sei quê, que nasce não sei onde,
vem não sei como, e dói não sei porquê. º


Camões é considerado, até hoje, o maior poeta português. Contudo, pouco se sabe sobre sua vida. Foi decerto, um homem do mundo, viajando por três continentes.
Tenta-se reconstruir um pouco da vida do poeta através de suas cartas e versos. Pela sua cultura e por alguns outros vestígios encontrados por historiadores, supõe-se que tenha passado por Coimbra, embora não tenha estudado regularmente na universidade local. Ainda jovem, serviu ao exército em Ceuta, onde perdeu um olho. Morou ainda por muito tempo no Oriente, em Macau e em Moçambique. Salvou-se a nado de um naufrágio na costa de Goa; supostamente, além de sua vida, também teria salvo os originais de Os Lusíadas. Voltou a Lisboa, onde viveu miseravelmente até a sua morte.
Imprimiu em todos os seus versos, tanto os históricos quantos os amorosos, a sua vivência pessoal – que não foi a vivência de um homem comum, mas de alguém de vasta cultura e temperamento de homem de ação.
Alguns de seus poemas líricos foram publicados ainda em vida, espalhados em outras obras, mas só foram reunidos em Rimas, quinze anos após sua morte. Nele, aparece o amor idealizado e inatingível, mas também a paixão carnal.
Já o épico Os Lusíadas foi publicado em 1572, rendendo ao poeta fama imediata e uma pensão vitalícia – que raramente chegou as suas mãos.
Inspirado na Eneida de Virgílio, buscou imortalizar as glórias do império português em 1102 estrofes, rimas em disposição ab-ab-ab-cc e versos decassílabos heróicos e sáficos.
É isso ae,Danilo Sátiro.

Um comentário:

Camilla Linson disse...

Belíssimo aqui,
parabéns aos organizadores.

Bem elaborado,
de vez em quando em venho aqui furtar alguns versos =D

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