domingo, 22 de junho de 2008

Mestre Caeiro.

Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol.
Ambos existem; cada um como é.



• É talvez o último dia da minha vida.
Saudei o sol, levantando a mão direita.
Mas não o saudei, dizendo-lhe adeus,
Fiz sinal de gostar de o ver antes: mais nada.


{Alberto Caeiro}
Heterônimo de Fernando Pessoa, Alberto Caeiro é considerado o mestre supremo de todos os heterônimos de Pessoa, homem do campo, Caeiro é o 'poeta sensação', ligado às percepções e à natureza. {Pertencente ao Modernismo Português}
Poemas extraídos do livro: Poemas Completos de Alberto Caeiro.

Ah, e a foto é do jardim lá de casa, xD~
Excelente semana para todos. :*

Danilo Sátiro.

domingo, 8 de junho de 2008

Ler Clarice é...

Ler Clarice é viver em permanente estado de paixão.
Ler Clarice exige uma mudança de postura do leitor no modo pelo qual ele se aproxima do texto. É que o texto de Clarice pede uma escuta atenta, uma entrega de quem o lê. Clarice fala de coisas presentes no nosso dia-a-dia, o modo pelo qual reagimos aos acontecimentos mais banais, como andar na rua, olhar-se ao espelho ou conversar com um amigo. Ela nos mostra, também, outras coisas vivenciadas interiormente, aqueles momentos sem palavras dos quais só o nosso coração testemunha.

Clarice escreve textos como quem vai desvelando a realidade, sondando os gestos, os olhares; tudo tão sutilmente que quando o leitor se dá conta vê-se diante de um instante mágico, especial, ao reconhecer a sua vida, a si mesmo, através daquelas palavras.Ler Clarice é uma oportunidade de mudar o seu olhar diante do universo. É estar disponível para se aventurar no seu interior de forma irracional, sem censuras. Deixar-se levar pela imaginação, pela intuição e usá-las como forma de conhecimento.

Ao publicar A paixão segundo G.H., Clarice escreveu uma pequena nota introdutória onde pedia que este livro só fosse lido por pessoas de alma já formada. Isso mostra até que ponto pode-se absorver o que o seu texto diz. Ao ler Clarice deve-se estar disposto a aceitar o não entendimento de determinados processos da vida. Clarice dizia: “Suponho que entender não seja uma questão de inteligência, mas uma questão de sentir, de entrar em contato.” Isso faz parte do caminho aberto pelo seu texto. Cada leitor contém a sua bagagem particular de experiências, sensações, acionadas no momento da leitura; Clarice sabe disso e valoriza estas particularidades. Seu texto é um convite permanente ao "viver ultrapassa todo o entendimento" (palavras de Clarice).

Clarice escreveu crônicas, contos, romances, livros infantis, reportagens, páginas femininas, uma peça teatral, enfim, exercitou-se em diferentes registros de textos, mas imprimiu sua marca em todos eles: o texto interroga, faz o natural parecer sobrenatural, imprime um sentido ainda desconhecido por nós.

Viver essa experiência de ser leitor de Clarice é uma aventura no que ela tem de imprevisível, surpreendente, perigoso, ao mesmo tempo é um presente porque quando se está lendo Clarice você se sente especial dentro deste universo criado por ela. Especial porque você consegue se reconhecer como um ser humano cheio de limitações, sujeito às adversidades da vida, ao fracasso, às crises, mas também capaz de trilhar um caminho repleto de descobertas, de sustos, de grandes alegrias, de momentos de êxtase, vertigens, delírios.
Ler Clarice é a possibilidade de viver intensamente o que se é.

(Teresa Montero)

Teresa Montero é doutora em Letras pela PUC-Rio, autora de Eu sou uma pergunta – uma biografia de Clarice Lispector (1999), organizadora de Correspondências – Clarice Lispector (2002), Outros escritos e Aprendendo a viver imagens.

Retirado do site:
http://www.claricelispector.com.br/
Visitem, muito bom! =)


Danilo Sátiro.

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Referência ao Modernismo

Amar

Que pode uma criatura senão,
senão entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

Carlos Drummond de Andrade.



Estudando o Modernismo vejo coisas muito legais. Esse grito ao direito da voz brasileira, essa agitação, fazer algo e não deixar que ditem nossas regras, literalmente, recriar o Brasil. Drummond não é meu preferiro, mas reconheço o quanto, como tantos outros, ele é bom. De Clarice nem preciso falar. Cecília, Graciliano com suas inovações, Rachel de Queirós representando a voz feminina.. Mundinho fascinante =) Por isso hoje e sempre, se interessem por literatura! Essa arte vai além de palavrinhas difíceis dispostas em métricas, ela é na verdade um relato, uma reflexão de tudo aquilo que nos ronda, por tanto é indispensável que leiamos para que não nos tornemos alienados e possamos, como nossos antecepassados, ter direito à um grito brasileiro.

Rosália Souza.