quarta-feira, 23 de julho de 2008

Ensaio sobre a cegueira

"Está morta, disse a mulher do médico, e a sua voz não tinha nenhuma expressão, se era possível uma voz assim, tão morta como a palavra que dissera, ter saído de uma boca viva. Levantou em braços o corpo subitamente desconjuntado, as pernas ensaguentadas, o ventre espancado, os pobres seios descobertos, marcados com fúria, uma mordedura num ombro, Este é o retrato do meu corpo, pensou, o retrato do corpo de quantas aqui vamos, entre estes insultos e as nossas dores não há mais do que uma diferença, nós, por enquanto, ainda estamos vivas."

Eis aqui uma das mais marcantes passagens do livro Ensaio sobre a cegueira de José Saramago, escritor português ganhador do nobel em literatura.
Pra quem não conhece esse livro conta a história de uma sociedade em que todos ficaram repentinamente cegos, e junto com a visão foi-se também a idéia de humanização. A história se segue relatando um verdadeiro inferno, como se pode ver nesta passagem, em que mulheres bem ditas na sociedade precisam se dar aos malévolos para garantir seu pão de cada dia.
Leiam o livro, é mais interessante do que eu falando.. Rs...
E sim, há rumores de que será lançado um filme baseado nesse livro, ou melhor, mais do que rumores há notas na internet..
http://www.cinepop.com.br/filmes/ensaiosobrecegueira.htm





Cenas do filme Ensaio sobre a cegueira(Blindness)

Rosália Souza.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

"O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita, o amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.

O amor comeu minhas roupas, meus lenços e minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.
...
O amor comeu minha paz e minha guerra, meu dia e minha noite, meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte".

(incompleto)

Os três mal-amados - João Cabral de Melo Neto.
Muito lindo declamado por Lirinha, vocalista do Cordel do Fogo Encantado.
Pois é.. João Cabral de Melo Neto, "compreende"? Grande escritor.. ÉÉ! Primo do Manuel Bandeira e Gilberto Freyre; autor de Morte e Vida Severina, que foi musicado por Chico Buarque... E por aí vai :)
Aquele abraço, Rosália Souza.